Gestão de Escritórios Jurídicos: Porquê e Como

29/01/2021

“Aquele que tem um PORQUÊ para viver, pode suportar quase qualquer COMO.”
Friedrich Nietzsche

 

Todos os dias, milhares de advogados se questionam: “como estruturar meu negócio para que eu possa ter chances frente às grandes bancas de advocacia?”. Seria muito simples para mim, na posição de profissional de gestão de escritórios, responder com uma única palavra: GESTÃO.

Sim, a gestão profissional é um grande aliado destas grandes bancas, mas será que todos devem ser grandes? Qual o papel do pequeno e do médio escritório no Brasil e qual fatia de mercado estes escritórios ocupam? Qual o papel da gestão nos escritórios?

Por certo não esgotaremos todas as questões neste único artigo, mas antes de falar sobre o COMO, que é a gestão, gostaria de chamar sua atenção para o PORQUÊ.

Ao abrir um escritório, certamente o advogado fez esta opção por alguma motivação. Afinal, por que abrir um escritório e não trabalhar numa empresa, ou prestar concurso, ou até mesmo atuar como advogado independente na pessoa física? Esta escolha teve um porquê e, junto com este porquê, minimamente, alguma estratégia de posicionamento de mercado deve ter sido feita, ainda que de forma inconsciente, intuitiva.

Diante deste cenário, como profissional que atua há mais de quinze anos na gestão de escritórios, posso afirmar que o advogado sócio de um escritório, de qualquer que seja o porte, não está só em sua dor de gerir um escritório de modo a torná-lo lucrativo. A dimensão desta gestão está diretamente ligada ao porte de seu negócio, mas, jamais, deve ser ignorada ou negligenciada. Qualquer escritório, pequeno ou médio deverá ter uma gestão e o ponto de partida para implantar esta gestão é ter em mente de que a prática jurídica é sua atividade fim e a gestão operacional (administrativa, financeira, pessoas, TI) é o meio que dará suporte à sua atividade fim. Neste aspecto, o principal termômetro para se saber qual a necessidade de ter um gestor dedicado em tempo integral a seu negócio será o percentual do tempo que o advogado, ou o sócio, que é o gerador de receita, dedica cuidando da operação (atividades administrativas e financeiras), em detrimento das atividades geradoras de receita e esta pode ser a razão pela qual seu negócio não prospera.

Ainda que o escritório não tenha mais do que 5 advogados, uma gestão profissional já se faz necessária, mesmo que não seja dedicada e, nestes casos, a gestão terceirizada pode ser a solução.

De modo mais amplo, os escritórios pequenos e médios entendem que esta gestão profissional só cabe às grandes bancas, em função de seu alto custo, mas é fundamental ressaltar que há soluções eficientes e eficazes que são viáveis e que, hoje, se estas grandes bancas possuem estrutura para tal, lembremos que estas iniciaram suas atividades ainda pequenas e que seu diferencial sempre foi a visão de que o investimento em gestão, estruturação de seu backoffice, é que viabilizaria, como viabilizou, o crescimento desta banca.

Mas o que, efetivamente, esta gestão agrega para seu negócio? Quando ressaltamos a necessidade de compreendermos o porquê do negócio, o fazemos por ser este o ponto de partida para que se possa buscar as soluções na medida certa, pois, em gestão estratégica, não existe um modelo único a ser aplicado, do contrário, pode-se superestimar ou subestimar recursos e esforços. A partir desta compreensão do propósito do negócio, o nicho no qual ele atuará, o porte que se deseja ter, iniciamos a análise dos “comos”, como, estrategicamente, deveremos estruturar o escritório. Neste sentido, a visão sistêmica do negócio é fator fundamental, ou seja, é necessário olhar o conjunto do negócio. Será este olhar mais amplo que permitirá sistematizar processos operacionais, estabelecer e medir indicadores que possibilitem um melhor gerenciamento, otimizar recursos e aumentar a eficiência de modo a permitir a estabilidade do negócio. Como exemplo, pode-se citar a relação existente entre despesas; custos; investimentos em tecnologia, marketing, treinamento e desenvolvimento na precificação e no quanto esta precificação correta é elemento chave para a manutenção e crescimento do seu negócio. Além da precificação, a avaliação do mix de serviços, diversificação da receita, gestão de fluxo de caixa, planejamento financeiro, plano de continuidade, dentre tantos outros serão pontos chave para dar robustez e prosperidade ao seu negócio. Esta visão estratégica, aliada a compreensão de sustentabilidade, permitirão uma gestão tão eficiente, que, em momentos de instabilidade econômica como a que passamos hoje, torna-se o ponto chave entre a continuidade ou não de seu negócio.

Atualmente, os pequenos e médios escritórios têm uma janela de oportunidade por ser possível iniciar a estruturação de seu negócio dentro de metodologias mais ágeis e modernas, poderão digitalizar seus processos jurídicos e operacionais desde o princípio e, com isso, estruturar seus dados atuando em direção a uma advocacia mais digital, a advocacia 4.0, com custos mais enxutos, processos mais eficientes e serviços com alto valor agregado.

Por fim, ao compreender o porquê (propósito, atividades fim) do seu negócio, o “como” (gestão/ atividade meio) será mais eficaz e eficientemente estruturada, a escalabilidade de seu negócio mais orgânica e sustentável, além de elemento chave para a continuidade da operação, sobretudo em momentos de crise, que necessitem de rápidas mudanças e adaptações, como a que vivemos atualmente.

Autora: Valéria Queiroz
Texto originalmente publicado na Revista IBPEA  / Ed. nº 8 – Janeiro 2021